O
senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator da Comissão Especial do
Impeachment no Senado, recomendou a abertura do processo contra a
presidenteDilma Rousseff na sessão desta quarta-feira. Anastasia descreveu como
"fatos criminosos" a abertura de créditos suplementares sem
autorização do Congresso e a contratação ilegal de operações de crédito com
instituição financeira controlada pela União, as chamadas pedaladas fiscais.
Na
conclusão de seu relatório, que tem 126 páginas, o senador sugere a admissibilidade
do processo pela casa: "Em face do exposto, a denúncia apresenta os
requisitos formais exigidos pela legislação de vigência, especialmente pela
Constituição Federal, para o seu recebimento. O voto é pela admissibilidade da
denúncia, com a consequente instauração do processo de impeachment, a abertura
de prazo para a denunciada responder à acusação e o início da fase
instrutória".
A
sessão, que começou por volta das 14h15min, teve um início tumultuado por
sucessivas questões de ordem apresentadas por senadores da base aliada ao
governo. A senadora Gleisi Hoffmann, por exemplo, questionou o fato de, na
terça-feira, durante a exposição de especialistas contrários ao impeachment, o
relator ter se ausentado para escrever seu voto. O líder do PSDB, Cássio Cunha
Lima (PB), classificou o questionamento como um ato de desespero de quem quer
retardar o processo.
O
senador também aproveitou para criticar a presidente Dilma Rousseff por chamar
o processo de golpe. Segundo Anastasia, o processo é legítimo e não configura
sequer "ruptura institucional": "Cabe refutar as insistentes e
irresponsáveis alegações, por parte da denunciada, de que este processo de
impeachment configuraria um 'golpe'. Em primeiro lugar, nunca se viu golpe com
direito a ampla defesa, contraditório, com reuniões às claras, transmitidas ao
vivo, com direito à fala por membros de todos os matizes políticos, e com
procedimento ditado pela Constituição e pelo Supremo Tribunal Federal
(STF)" diz o tucano, que considerou o discurso da presidente uma
"tentativa de deslegitimar a própria figura do impeachment". Ele
ressaltou ainda que um modelo presidencialista sem a possibilidade de
impeachment seria "o melhor de dois mundos" e conferiria ao
presidente um poder "absolutista", o que não seria compatível com uma
sociedade democrática.
O
relatório se limita aos crimes tipificados na denúncia aceita pela Câmara dos
Deputados, em relatório escrito por Jovair Arantes (PTB-GO), mas Anastasia
afirmou em seu relatório que, após instauração do processo, novos fatos possam
ser somados à denúncia. "Uma vez (e se) instaurado o processo, a
denunciada deverá se defender dos fatos narrados, e não da tipificação jurídica
proposta na denúncia e aceita pela Câmara dos Deputados", escreve o
senador.