Marcos Fonseca
Poucas categorias de
trabalhadores têm tanto poder nas mãos que os caminhoneiros. Talvez nem mesmo
eles soubessem disso: unidos, podem parar o país. É isso que está se vendo
hoje. Bastou estacionarem os caminhões ao longo das rodovias para o Brasil
praticamente parar. De combustível a alimentos, mercadoria nenhuma chega ao seu
destino, já que 80% de tudo toda a produção nacional viaja via rodoviária. O
resultado é o desabastecimento generalizado em muitas cidades. Greve de
caminhoneiros não é coisa nova no país. Sempre houve. Mas a dimensão do atual
movimento, que já dura uma semana, começa a surpreender especialistas políticos
e econômicos. Há quem diga que o protesto já se iguala à onda de manifestações
que tomaram as ruas em 2013.
Só que o ato dos
motoristas tem um efeito mais forte sobre a economia nacional. “Eles realmente
têm a capacidade de parar o Brasil”, afirma o cientista político e professor da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Dejalma Cremonese. O modal
rodoviário, em detrimento do trem e dos navios, foi adotado há 60 anos e, hoje,
mostra-se ultrapassado. “É um modelo muito atrasado e errado”, aponta o
cientista político.
A greve que provoca
bloqueios nas estradas é para protestar contra o último reajuste dos
combustíveis, especialmente do óleo diesel. A elevação do preço fez o lucro dos
motoristas autônomos minguar. Os donos das mercadorias não desejam aumentar o
valor pago pelo frete, pois isso afetaria a concorrência. Quem acaba pagando a
conta do prejuízo é o caminhoneiro.
Cremonese diz que a
instabilidade política, econômica e social neste começo de 2015 é a maior dos
últimos 20 anos. Ao mesmo tempo, observa-se um distanciamento das autoridades
com relação aos anseios da sociedade. “Contrariamente do que a sociedade quer
num momento de crise, a classe política dá as costas ao povo”, observa.
Na análise do cientista
político, a euforia dos 12 anos do governo do PT começa a diminuir. Os
incentivos para que a população comprasse casa e carro novos geraram o
endividamento dos brasileiros. Muitos não conseguem pagar as contas. É o que
está acontecendo com os caminhoneiros.
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