sexta-feira, 11 de março de 2016

Paleontólogos descobrem réptil fóssil de 250 milhões de anos em São Francisco de Assis-RS

Imagem: reconstrução do animal em vida - Voltaire Neto








um grupo de pesquisa  composto por cientistas da UFRGS, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e por um pesquisador do Reino Unido, identificou uma nova espécie de réptil fóssil que viveu há 250 milhões de anos no Rio Grande do Sul. A descoberta ajuda a explicar como foi a evolução inicial do grupo de animais que originou os dinossauros, pterossauros, jacarés e aves. O trabalho foi publicado no periódico científico Scientific Reports, do grupo Nature, nesta sexta-feira, 11 de março.

Identificada a partir de um crânio bastante completo e bem preservado, a nova espécie foi batizada de Teyujagua paradoxa. Teyujagua significa “réptil feroz” na língua Guarani, em referência a Teyú Yaguá, um personagem mitológico indígena, representado por um lagarto com cabeça de cachorro.

“O Teyujagua é bem diferente de outros fósseis de mesma idade. Sua anatomia mostra que esse animal era um intermediário entre répteis primitivos e os arcossauriformes, grupo bastante diversificado que inclui todos os dinossauros extintos, além das aves e jacarés atuais”, explica Felipe Pinheiro, professor da Unipampa e coautor do trabalho.

A descoberta comprova que os arcossauriformes se tornaram diversos após um grande evento de extinção em massa que ocorreu há 252 milhões de anos, no fim do período Permiano. Essa extinção eliminou cerca de 90% de todas as espécies de seres vivos, desencadeada pelo efeito estufa causado por imensas erupções vulcânicas que ocorreram no leste da Rússia.  Depois da extinção, o planeta estava despovoado, o que deu oportunidade para que alguns grupos de animais crescessem em número e diversidade. Os arcossauriformes se tornaram animais dominantes nas faunas terrestres do planeta, originando incontáveis formas carnívoras e herbívoras. “Tudo que a gente conhece hoje – jacarés, aves, lagartos – vieram dessas poucas espécies que sobreviveram a esse evento. Esses animais que sobreviveram, direta ou indiretamente, deram origem a tudo que veio depois”, explica o professor da UFRGS Cesar Schultz.

Pequeno, medindo cerca de 1,5m de comprimento, o quadrúpede possuía dentes curvados, agudos e serrilhados, que indicam uma alimentação carnívora. Suas narinas eram localizadas na parte de cima do focinho, o que é característico de animais aquáticos ou semiaquáticos, como os jacarés atuais. “O interessante é que a espécie descoberta possui uma mistura de características de diversos grupos animais. Características que depois deram origem a diferentes formas de seres vivos”, comenta Schultz.

O animal provavelmente vivia às margens de rios e lagos, caçando anfíbios primitivos e pequenos répteis parecidos com lagartos, os procolofonídeos. O fóssil foi encontrado no começo do ano 2015 pela equipe do Laboratório de Paleobiologia da Unipampa no município de São Francisco de Assis, Rio Grande do Sul, em rochas do início do período Triássico, testemunhando a recuperação da diversidade biológica após a extinção do período Permiano.

Seguem as escavações na localidade onde o Teyujagua foi encontrado, com a constante recuperação de novos fósseis. Essas descobertas podem fornecer informações sobre como eram os ecossistemas terrestres em uma época anterior ao surgimento dos primeiros dinossauros e sobre como as faunas se recuperam após grandes extinções em massa.

Os financiamentos para os estudos provem do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Marie Curie Career Integration Grant (Reino Unido).

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